sexta-feira, 13 de julho de 2012

DEPOIMENTO DE LEOPOLDO COSTA


Escritório em São Paulo

Minha família é de origem mineira. Meu pai era pintor sacro (pintou vários painéis de fundo religioso em muitas igrejas do interior de Minas Gerais) e, para sustentar a família (pois arte não dá dinheiro), trabalhava como pedreiro.
No final da década de 1950, conversando com o meu tio e minha tia que moravam em Barretos, e buscando melhor condição de vida para a família, surgiu a ideia de meu pai vir para Barretos, onde se empregou no Frigorifico Anglo, como encarregado da turma de pedreiros que trabalhava nas colônias. Depois de alguns meses, conseguiu uma casa na colônia, na avenida São Paulo, e foi buscar a família em Minas. Eram sete filhos e o mais velho, eu, tinha pouco mais de 12 anos.
Infelizmente, meu pai adoeceu e morreu prematuramente aos 43 anos de idade, no dia 3 de outubro de 1961, deixando minha mãe viúva com uma penca de filhos pequenos para criar. D. Conceição, minha mãe, foi uma lutadora e priorizou a família. Viúva, bonita, com 36 anos de idade, recebeu propostas de casamento, mas para proteger os filhos, não aceitou.
 Todos os filhos completaram o curso superior, menos o Antonio, que fez outra opção. A família, após a morte de meu pai, recebeu muito apoio dos vizinhos, principalmente dos que moravam no mesmo bloco da colônia, como D. Palmyra e Sr. Luizão, moradores da casa contígua.

Fotografia constante na minha carteira profissional (era menor de idade).

Eu, com 15,  e minha irmã, com 14 anos, nos empregamos na fábrica. O salário de um funcionário menor de idade era a metade do salário mínimo e tanto eu quanto minha irmã usávamos este dinheiro para complementar a pensão de viúva que minha mãe passou a receber para o nosso sustento. Minha irmã foi trabalhar na seção de vendas e eu fui limpar o chão com vassourão na Descarneação (Desossa). O chefe era o Chimango e me recordo do Sr. Costa, pai da Zainha, do Roda e da Cristina, que trabalhava como desossador e me dava apoio. Depois, quando começou o abate de aves, fui transferido para a seção e, com outro rapaz (Ozéas), transportava as aves em um gaiolão do galinheiro para a sala de abate, próxima à sala de matança de bois. O chefe da Matança de Aves era o Sr. Nephtaly Bittencourt. Como eu estudava e era habilidoso na escrita, fazia para ele o relatório de produção e rendimento. Então, quando precisaram de um estoquista, fui transferido para a seção de Conservas, cujo chefe era o Sr. Antônio Batista. Foi nesse departamento que conheci a minha esposa Adeci. Certo dia, o Sr. Batista disse-me que o gerente Sr. Bartlett queria falar comigo. Fiquei assustado, mas ele me tranquilizou, dizendo que era notícia boa. Apresentei-me na Gerência e a conversa resultou em um convite para trabalhar como calculista no Departamento de Custos, cujo chefe era o Sr. Bardoe. Nesse período, casei-me e fui morar na Av. Campinas, quase no final, sendo vizinho do Sr. Leão; mas logo depois mudei para a Av. São Paulo, na casa vizinha à do Sr. Inácio e D. Sonia.
Destaquei-me no departamento de Custos e, por conseguinte, fui convocado para instalar o controle de estoques e de custos no frigorífico de Goiânia, o qual havia recentemente sido inaugurado. O sr. Bardoe (chefe do Departamento) se aposentou e então contrataram um argentino de ascendência britânica para substituí-lo. Infelizmente, o novo encarregado não se deu bem, ocorreram alguns problemas e precisou vir de Londres um especialista para resolver a situação. Nessa época, o gerente da fábrica era o Sr.Cunnigham e ele decidiu que o chefe recém-contratado fosse dispensado, nomeando-me para a chefia, onde fiquei vários anos.
Mudei-me então para a Av. Central, na casa onde havia morado o Sr. Nephtaly (ficava entre a do Neno-Sinhá e do Sabiá-Direce). Logo depois, mudei-me para a colônia dos ingleses, na Av. Federal. Minha casa era a primeira à direita, vizinha da residência do Joaquim Sola, confrontando com as casas da Av. Central onde moravam o Sr. Diamantino e o Sr. Mário Pereira. Minha secretária no departamento de Custos era a Rosane (filha do Epifânio) e faziam parte da minha equipe: Ali Salomão, Luis Borges, Hélio Perazolli, Carlos Foresto e muitos outros como Roberto Pereira, Ivan Kandratavius, José Valeretto, Celso Valeretto, Eli Daniel, etc.
Tempos depois, vagou o cargo de Diretor Geral de Produção e Custos em São Paulo e fui escolhido por Londres e pela Presidência para ocupá-lo. Para preparar-me, mudei-me  com a família para a Austrália, onde fiquei durante um ano em treinamento em três frigoríficos, como também no Escritório Central de Sydney.
(Sydney. Austrália)  Meus filhos voltando da escola no período em que moramos lá.

Assim,aprendi muito e pude melhorar o meu inglês. Voltei ao Brasil e assumi o cargo de Diretor, pela primeira vez ocupado por um brasileiro, pois desde a fundação da Anglo, tal cargo era exercido apenas por britânicos. Fui diretor durante 14 anos, participando da tomada de importantes decisões, como a construção do Frigorífico de Gurupi e a compra do Frigorífico Atlas. Mais tarde, acumulei também a função de atuar no gerenciamento das vendas nos mercados interno e de exportação. Dentre outros, participaram da minha equipe: Michael Nunn, Dominic McDermott, Mark Duffen, José Rodriges (Zé do Peixe), Álvaro Mesquita e John Hunter.
Eu viajava anualmente para Londres para discutir orçamentos e resultados e visitava as filiais de vendas dos grupos de Hamburgo, Rotterdam, Genova, Barcelona, Zug (Suíça) e outras. Na negocição de grandes contratos, como a venda de carne para Israel, Irã e Iraque, visitei, também,  estes países.
Comecei trabalhando em São Paulo, no escritório da rua Anchieta, (próximo da Praça da Sé). Depois, o escritório mudou-se para a rua Campo Verde (esquina da av. Faria Lima), posteriormente para prédio próprio na rua Felipe dos Santos (na Liberdade-São Joaquim) e, finalmente, para a rua Afonso Brás (Vila Nova Conceição). Comecei na Anglo como varredor do chão da descarneação, aposentei-me como Diretor e me orgulho disso.



2 comentários:

  1. QUE HISTÓRIA DE VIDA MARAVILHOSA. EXCELENTE DETERMINAÇÃO E VONTADE DE VENCER. EXEMPLOS A SEREM SEGUIDOS. PARABÉNS. QUE DEUS CONTINUE NO COMANDO DE SUA VIDA.

    ResponderExcluir
  2. Carreira maravilhosa...parabéns Leopoldo.... Jorge Silva 03/03/2021

    ResponderExcluir