Meu pai, Nelson Camargo, era conhecido por todos como Japão. Ele era
irmão do Odair, conhecido por Dico. Era muito amigo do Moela, do Carrapicho, do
Gilberto, do Antônio e do Morgado.
Ele trabalhava nas forjas como ferreiro. Seu chefe era o Armandão. Minha
mãe, dona Nair, era pequenina no tamanho, mas grande em bondade e força. Ela
teve sete filhos: Neila, Neide, Neusa, Nelson Junior, Norma e eu, sendo que uma morreu quando era nenê.
Morávamos na avenida Paulista. Interessante, não me lembro do número da
casa, mas éramos vizinhos da dona Cidu e de dona Sebastiana.
Éramos crianças muito felizes. Nascemos todas em uma casa da Colônia dos
Operários. Nossa casa era nosso castelo. Percorríamos descalços o Campo de
Golfe, a área dos ingleses e nos sentíamos muitos felizes.
Não conheci meu avô, pai de meu pai. Sei que ele trabalhou no
Frigorífico, puxando lenha com carroça.
Vou contar uma história acontecida no Frigó. Eu tinha uns nove anos,
quando o Mauro, filho da dona Chica, chegou em casa e pediu para minha mãe
deixar eu ir com ele até a farmácia buscar o remédio da mãe dele.
Minha mãe deixou. Fomos eu, o Nelsinho
e o Mauro buscar o remédio a pé. Parecia que era longe. Ao retornar em casa,
minha mãe perguntou: “Mauro, cadê o remédio de sua mãe?” Ele respondeu: “Ah,
joguei fora.” Minha mãe, brava, mandou que voltássemos e o pegássemos de volta.
Ocorre que os comprimidos (gardenal)
eram de drágeas coloridas, parecidas com uns confetes comestíveis que tinham
lançado. Como tinham um sabor docinho, Mauro comeu quase tudo no caminho.
Quando passamos a primeira porteira do
Frigó, próximo da entrada para a Colônia dos Ingleses, vi a dona Chica correndo
atrás e dizendo: “Mauro, cadê meu remédio?!” O Mauro corria alguns passos e
caía e, quando sua mãe chegava perto, ele se levantava.
O remédio fez efeito e ele teve de ser
levado à Santa Casa para fazer lavagem. Nossa! Foi um susto danado, mas
terminou bem. Não esqueço nunca disso...
Mudei do Frigó em 11 de janeiro de
1973. Tinha 13 anos. Viajamos a noite inteira de trem. Chegamos cedo em
Campinas. Quando voltei a Barretos e vi a Colônia destruída, bateu uma saudade
danada. As lembranças das caminhadas até o grupo, à igreja, ao restaurante.
Nossa, se pudesse voltar no tempo...
Que saudade
do Barro Branco! Esse local ficava perto dos Arno, íamos à pé, as vezes,
pela linha do trem sentido estação. Os barrancos realmente eram brancos,
ou seja, barro branco mesmo, tipo argila e, no local em que todo mundo nadava,
o rio era bem largo.
Eu também
jogava pingue-pongue no clube. Muita saudade! Os operários ocupavam as casas
conforme o cargo que exerciam na fábrica; alguns moravam na Campinas, outros na
Paulista.; outros na avenida Central, mas nós, crianças, não percebíamos nada
disso. Vivíamos nossa infância feliz.
Diploma de Noemias Camargo, na escola Fábio Junqueira Franco
OLÁ NOEMIAS, ESSA NÃO FIQUEI SABENDO. QUE HISTÓRIA INTERESSANTE E CÔMICA.
ResponderExcluirDÁ PRA IMAGINAR SUA MÃE CHAMANDO A ATENÇÃO DO MENINO. AQUELA MULHER TÃO PEQUENINA E TÃO SÁBIA QUE EU APRENDI A GOSTAR. EU A CONSIDERAVA UMA MULHER À FRENTE DO SEU TEMPO: "INTELIGENTE", AMOROSA, SIMPÁTICA E ...
TAMBÉM DÁ PRA IMAGINAR A DONA CHICA, COM SEU ESTILO, CORRENDO ATRÁS DO MAURO E ELE CAINDO E SE LEVANTANDO. GOSTEI DE CONHECER MAIS EPISÓDIO DO CAPÍTULO DA NOVELA: "BAIRRO DO FRIGORÍFICO". ABRAÇOS.